UMA MADRUGADA EM 2003
Normalmente aos sábados, os bombeiros se juntam e dividem uma pizza confraternizando-se entre si e fortalecendo o espírito de corpo. Às vezes, a pizza chega e eles não estão lá para comê-las, pois foram acionados para alguma ocorrência. Aconteceu assim, um acidente grave entre um carro e um caminhão acabara de ocorrer na estrada depois do Gunga! Partimos em duas viaturas, discutindo e imaginando como estaria a situação e já distribuindo as funções a serem seguidas por cada um de nós. Cada vez mais perto do local, a adrenalina percorre nosso corpo e nos faz entrar num mundo que poucos conhecem: o mundo da palavra salvar!
CARRO BATEU NA TRASEIRA
No local estavam o motorista do caminhão sem ferimentos, já que a colisão tinha sido na traseira do seu veículo, e o motorista do UNO que, preso às ferragens, conversava tranqüilamente. Todos os passos do salvamento veicular eram feitos dentro das condições possíveis, pois passávamos por um momento meio ruim, em relação a equipamentos. Uma época difícil. A fratura em sua perna era visível e a dor intensa. Cada pequeno movimento era seguido de um grito de dor. Calma amigo! Vamos ter que colocá-lo na prancha! Segura mais um pouquinho que você vai ficar bem. Muitas vezes a resposta é dada com um piscar de olhos ou com um sinal de "OK" com o polegar. "Ta doendo muito bombeiro", dizia ele!
O JATO DE SANGUE
Já imobilizado e na prancha, o rapaz é levado para dentro da viatura de resgate, onde é realizado um exame mais detalhado que chamamos de exame secundário ou dirigido. Determinei que cortassem sua calça e observei, em sua sunga, uma grande macha de sangue! Para visualizar o ferimento, cortei sua sunga sendo surpreendido por um jato de sangue que cessou de repente. A contenção da hemorragia era feita e a viatura com sua sirene cortava a AL-101 sul, com destino ao hospital. Nem tudo que acontece na madrugada é regado de câmeras, holofotes e repórteres! Muitas coisas somente acontecem entre bombeiros e vítimas. Vida por vida. Juramento decente perante homens e DEUS. Nada de juramento de cocô. Nada feito em troca de dinheiro ou favores. Uma profissão feita por pessoas que não passam de instrumentos de DEUS!
ME DÊ AGUA ?
No caminho, o rapaz me contava que trabalhava em uma fabrica de cimento. Ele me pedia que eu anotasse os dados e avisasse, assim que possível, ao pessoal da empresa. Eu, calmamente, anotei tudo, ao mesmo tempo em que observava que ele não parava de pedir água. Pedir água naquela altura era um fato que nos deixava ainda mais preocupados, já que sinais e sintomas assim podem ser o de hemorragia interna. O ferimento em sua cintura, possivelmente, foi causado pelo celular que estava pendurado na calça. Na hora da colisão, o cinto de segurança foi tencionado pressionando o celular no corpo do rapaz, causando aquele ferimento profundo. Evite usar na cintura com o cinto de segurança por cima dele.
HOSPITAL I
Chegamos ao hospital e acompanhamos o rapaz até a sala de primeiros atendimentos, onde foi encaminhado para o Raio X. Ele me pediu que eu ligasse para sua mãe e avisasse do acidente, informando que ele estava bem e que depois falaria com ela. Não perdi tempo; entrei na sala da assistente social e fiz as ligações. Poxa... tive um trabalhão para acalmar a todos e dizer que estava tudo bem com aquele cidadão. Retornei e fiz questão de avisá-lo que a mensagem tinha sido repassada e todos estavam cientes e a caminho do pronto socorro. Ele sorriu e me deu um aperto de mão, agradecendo a todos da equipe. Ao sair, olhei para trás e ainda lhe dei um tchau! Ele respondeu estendendo sua mão
HOSPITAL II
Finalmente, podia acabar a pizza que se encontrava dura e o refrigerante que estava quente. Ninguém lembrou de deixá-lo na geladeira. Também, não dava tempo de fazer isso; a saída tem que ser em 1 minuto, no máximo. Outra ocorrência me fez entrar, naquela madrugada, no hospital. A rotina de atendimento é tão grande que, muitas vezes, não lembramos de perguntar das pessoas que atendemos antes. Mas naquele dia, quando eu saía, a enfermeira me chamou; "tenente Burity, como você está"? "E aí, tudo tranqüilo", respondo. "Tudo tranquilão". Mande as ordens aí, eu disse. Poxa tenente, aquele rapaz que vocês trouxeram do acidente acabou de morrer na cirurgia. Eu confesso que gelei. Ele conversava normalmente comigo. Eu liguei para sua mãe e a convenci que ele estava bem. Ali, começavam as diversas vezes que já vi a vida ir embora como uma pilha fraca em um brinquedo de criança. Ali, aprendi que devemos dar valor a cada minuto vivido, a cada pessoa importante em nossa vida e, finalmente, aprendi que não devemos nos abalar e nem dar atenção às pessoas de mau caráter, que estão no mundo para fazer o mal. Esses, com certeza, sempre serão salvos pelos bombeiros, mas jamais se salvarão perante DEUS!
O TRÂNSITO
Sempre terei que pedir desculpas por algum transtorno causado pelos treinamentos das equipes dos bombeiros, pois jamais deixaremos de treinar e, muitas vezes, em locais e dias em que a realidade faz parte da cena da operação. Não escolhemos hora para fazer o atendimento. Pode ser de dia ou de noite; pode ser no sol ou na chuva; pode ser na pista ou no esgoto. Terei sempre que optar por pedir desculpas por um transtorno no trânsito mas, JAMAIS, pedirei desculpas a um pai, mãe ou um irmão porque o salvamento não se concretizou da maneira que deveria e seu ente querido veio a falecer. Há, na vida, duas categorias de seres: aqueles que sugam e se vendem - esses são os parasitas - e aqueles que irradiam luz. A elite dos treinamentos. Rodeei-me sempre de irradiantes, que duplicam minha energia.
Fique com DEUS
Normalmente aos sábados, os bombeiros se juntam e dividem uma pizza confraternizando-se entre si e fortalecendo o espírito de corpo. Às vezes, a pizza chega e eles não estão lá para comê-las, pois foram acionados para alguma ocorrência. Aconteceu assim, um acidente grave entre um carro e um caminhão acabara de ocorrer na estrada depois do Gunga! Partimos em duas viaturas, discutindo e imaginando como estaria a situação e já distribuindo as funções a serem seguidas por cada um de nós. Cada vez mais perto do local, a adrenalina percorre nosso corpo e nos faz entrar num mundo que poucos conhecem: o mundo da palavra salvar!
CARRO BATEU NA TRASEIRA
No local estavam o motorista do caminhão sem ferimentos, já que a colisão tinha sido na traseira do seu veículo, e o motorista do UNO que, preso às ferragens, conversava tranqüilamente. Todos os passos do salvamento veicular eram feitos dentro das condições possíveis, pois passávamos por um momento meio ruim, em relação a equipamentos. Uma época difícil. A fratura em sua perna era visível e a dor intensa. Cada pequeno movimento era seguido de um grito de dor. Calma amigo! Vamos ter que colocá-lo na prancha! Segura mais um pouquinho que você vai ficar bem. Muitas vezes a resposta é dada com um piscar de olhos ou com um sinal de "OK" com o polegar. "Ta doendo muito bombeiro", dizia ele!
O JATO DE SANGUE
Já imobilizado e na prancha, o rapaz é levado para dentro da viatura de resgate, onde é realizado um exame mais detalhado que chamamos de exame secundário ou dirigido. Determinei que cortassem sua calça e observei, em sua sunga, uma grande macha de sangue! Para visualizar o ferimento, cortei sua sunga sendo surpreendido por um jato de sangue que cessou de repente. A contenção da hemorragia era feita e a viatura com sua sirene cortava a AL-101 sul, com destino ao hospital. Nem tudo que acontece na madrugada é regado de câmeras, holofotes e repórteres! Muitas coisas somente acontecem entre bombeiros e vítimas. Vida por vida. Juramento decente perante homens e DEUS. Nada de juramento de cocô. Nada feito em troca de dinheiro ou favores. Uma profissão feita por pessoas que não passam de instrumentos de DEUS!
ME DÊ AGUA ?
No caminho, o rapaz me contava que trabalhava em uma fabrica de cimento. Ele me pedia que eu anotasse os dados e avisasse, assim que possível, ao pessoal da empresa. Eu, calmamente, anotei tudo, ao mesmo tempo em que observava que ele não parava de pedir água. Pedir água naquela altura era um fato que nos deixava ainda mais preocupados, já que sinais e sintomas assim podem ser o de hemorragia interna. O ferimento em sua cintura, possivelmente, foi causado pelo celular que estava pendurado na calça. Na hora da colisão, o cinto de segurança foi tencionado pressionando o celular no corpo do rapaz, causando aquele ferimento profundo. Evite usar na cintura com o cinto de segurança por cima dele.
HOSPITAL I
Chegamos ao hospital e acompanhamos o rapaz até a sala de primeiros atendimentos, onde foi encaminhado para o Raio X. Ele me pediu que eu ligasse para sua mãe e avisasse do acidente, informando que ele estava bem e que depois falaria com ela. Não perdi tempo; entrei na sala da assistente social e fiz as ligações. Poxa... tive um trabalhão para acalmar a todos e dizer que estava tudo bem com aquele cidadão. Retornei e fiz questão de avisá-lo que a mensagem tinha sido repassada e todos estavam cientes e a caminho do pronto socorro. Ele sorriu e me deu um aperto de mão, agradecendo a todos da equipe. Ao sair, olhei para trás e ainda lhe dei um tchau! Ele respondeu estendendo sua mão
HOSPITAL II
Finalmente, podia acabar a pizza que se encontrava dura e o refrigerante que estava quente. Ninguém lembrou de deixá-lo na geladeira. Também, não dava tempo de fazer isso; a saída tem que ser em 1 minuto, no máximo. Outra ocorrência me fez entrar, naquela madrugada, no hospital. A rotina de atendimento é tão grande que, muitas vezes, não lembramos de perguntar das pessoas que atendemos antes. Mas naquele dia, quando eu saía, a enfermeira me chamou; "tenente Burity, como você está"? "E aí, tudo tranqüilo", respondo. "Tudo tranquilão". Mande as ordens aí, eu disse. Poxa tenente, aquele rapaz que vocês trouxeram do acidente acabou de morrer na cirurgia. Eu confesso que gelei. Ele conversava normalmente comigo. Eu liguei para sua mãe e a convenci que ele estava bem. Ali, começavam as diversas vezes que já vi a vida ir embora como uma pilha fraca em um brinquedo de criança. Ali, aprendi que devemos dar valor a cada minuto vivido, a cada pessoa importante em nossa vida e, finalmente, aprendi que não devemos nos abalar e nem dar atenção às pessoas de mau caráter, que estão no mundo para fazer o mal. Esses, com certeza, sempre serão salvos pelos bombeiros, mas jamais se salvarão perante DEUS!
O TRÂNSITO
Sempre terei que pedir desculpas por algum transtorno causado pelos treinamentos das equipes dos bombeiros, pois jamais deixaremos de treinar e, muitas vezes, em locais e dias em que a realidade faz parte da cena da operação. Não escolhemos hora para fazer o atendimento. Pode ser de dia ou de noite; pode ser no sol ou na chuva; pode ser na pista ou no esgoto. Terei sempre que optar por pedir desculpas por um transtorno no trânsito mas, JAMAIS, pedirei desculpas a um pai, mãe ou um irmão porque o salvamento não se concretizou da maneira que deveria e seu ente querido veio a falecer. Há, na vida, duas categorias de seres: aqueles que sugam e se vendem - esses são os parasitas - e aqueles que irradiam luz. A elite dos treinamentos. Rodeei-me sempre de irradiantes, que duplicam minha energia.
Fique com DEUS
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